A reportagem que saiu na Zero Hora fala sobre a exposição Autorias, e sobre um episódio triste que não nos inibiu: infelizmente a obra do artista plástico Gustavo Burkhart foi vandalizada. No dia seguinte a obra original foi retirada e encaminhada para a restauração....
AS CARAS POR TRÁS DOS NOMES / NOTÍCIA Exposição ao ar livre leva retratos de escritores gaúchos para o Viaduto Otávio Rocha - Mostra "Autorias" integra o "esquenta" da 67ª Feira do Livro de Porto Alegre...
Data: 17/10/2021 - Horário: 19h05min - Atualizada em 18/10/2021 às 15h38min...
Fotos de Félix Zucco - Agência RBS
Está mais colorido o caminho de quem passa pelos 45 metros de extensão do piso superior do Viaduto Otávio Rocha, na Avenida Borges de Medeiros, no centro da Capital. Desde 1º de outubro e até o dia 31, o espaço recebe, por meio da Galeria Escadaria, a mostra Autorias. A exposição ao ar livre homenageia 26 nomes da literatura gaúcha com retratos criados por 18 artistas visuais — entre telas pintadas a tinta óleo ou acrílica e desenhos digitais —, e integra o "esquenta" da 67ª Feira do Livro de Porto Alegre, marcada para ocorrer de 29 de outubro a 15 de novembro.
Fruto do trabalho coletivo de "apaixonados pela causa da arte na rua", como grupo de artistas é descrito pela curadora Graça Craidy, a exposição assume para si duas missões: reconhecer a importância daqueles que, através das palavras, narram a vida do povo do Rio Grande do Sul e, sobretudo, democratizar o acesso a obras de arte. O resultado, conforme Graça, é visível no desacelerar dos passos costumeiramente apressados de quem, agora, permite-se parar e mirar os rostos coloridos pendurados sobre as paredes do viaduto.
— Muitas pessoas estão frequentando encantadas. Pessoas simples. Gente que nunca entrou em um Margs e, provavelmente, nem vai entrar. São tão imponentes os nossos prédios de arte, que muitas vezes as pessoas não se sentem à vontade para entrar neles. Mas, na rua, tu podes ir às 2h da manhã se quiseres — celebra a curadora, que também assina dois dos retratos expostos.
A seleção dos autores homenageados contou com a consultoria dos professores de Literatura Sergius Gonzaga e Luis Augusto Fischer. O principal critério adotado foi a igualdade de gênero: do seleto hall de 26 escritores, 13 são homens e 13 são mulheres.
Entre a escrita masculina, olhares como os de Oliveira Silveira, Mario Quintana e Caio Fernando Abreu encaram os transeuntes do viaduto. Já entre as representantes mulheres, decanas como Maria Carpi e Lya Luft dividem parede com nomes da nova geração, como Luisa Geisler.
— Entendemos que era um bom momento histórico para darmos o espaço merecido e justo às escritoras mulheres. No mundo inteiro as mulheres estão reivindicando seu lugar dentro das artes, que são sempre tomadas muito mais por homens — explica Graça, salientando também a dimensão simbólica e pedagógica escondida por trás da exposição, de "dar cara" a autores muitas vezes conhecidos apenas enquanto nomes inacessíveis para parte da população:
— As pessoas não têm a obrigação de saber que cara tem a Lya Luft, por exemplo. Queremos que elas olhem e digam "Ah, então esta é a Lya Luft", e desçam para procurar um livro dela nas estantes e balaios da Feira.
RESISTÊNCIA:
Apesar de ser entendida como um presente para a cidade — já que a mostra não conta com patrocínio, tendo sido custeada pelos artistas que assinam as obras —, a exposição sofreu com talvez o único ônus de ter a rua como museu: o risco de depredação. Uma das pinturas, o retrato de Luis Fernando Verissimo feito por Gustavo Burkhart, foi cortada em um ato de vandalismo. O crime foi recebido com tristeza pelos organizadores, que apuram o responsável junto às autoridades com o auxílio de câmeras de segurança.
— Entendemos que era um bom momento histórico para darmos o espaço merecido e justo às escritoras mulheres. No mundo inteiro as mulheres estão reivindicando seu lugar dentro das artes, que são sempre tomadas muito mais por homens — explica Graça, salientando também a dimensão simbólica e pedagógica escondida por trás da exposição, de "dar cara" a autores muitas vezes conhecidos apenas enquanto nomes inacessíveis para parte da população:
— As pessoas não têm a obrigação de saber que cara tem a Lya Luft, por exemplo. Queremos que elas olhem e digam "Ah, então esta é a Lya Luft", e desçam para procurar um livro dela nas estantes e balaios da Feira.
Mas o desejo de aproximar a arte e a literatura da gente de Porto Alegre se impôs. Nesta segunda, a tela será substituída por uma versão digital, impressa em PVA, enquanto é encaminhada para restauração. Até o final da semana, a obra original deve estar de volta à parede do viaduto.
— Sabíamos que corríamos esse risco, mas a gente não vai se render, porque somos resistência. A cidade que não se preocupe, porque já estamos providenciando o restauro. A arte cura a arte, e nós somos todos muito maiores do que a pobre pessoa que fez isso — garante a curadora.
Confira a relação de artistas e autores retratados:
Beatriz Balen Susin pintou Luiz Antonio de Assis Brasil e Maria Carpi; Bernardete Conte, Simões Lopes Neto; Emmanuele de Quadros, Luisa Geisler; Erico Santos, Lya Luft e Moacyr Scliar; Gilmar Fraga, Carol Bensimon e Erico Verissimo; Graça Craidy, Dyonélio Machado e Marô Barbieri; Gustavo Burkhart, Luis Fernando Verissimo; Gustavo Schossler, Fernanda Bastos; Helena Stainer, Cíntia Moscovich e Cyro Martins; Liana d’Abreu, Lélia Almeida; Liana Timm, Eliane Brum e Mario Quintana; Mariza Carpes, Leticia Wierzchowski; Nara Fogaça, Martha Medeiros e Josué Guimarães; Pena Cabreira, Claudia Tajes e João Gilberto Noll; Thiago Quadros, Sergio Faraco; Ubiratan Fernandes, Jane Tutikian e Oliveira Silveira; e Gustavot Diaz e Ise Feijó dividem a autoria do retrato de Caio Fernando Abreu.
Fotos de Félix Zucco - Agência RBS
Texto e Fotos do Repórter: Félix Zucco...
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